O cristão, seu caráter e seus atributos responsivos

Textos bíblicos: Mateus 5.13-16; João 13.17


Para facilitar a compreensão dos discípulos e da multidão que o seguia, Jesus se utilizava da linguagem conotativa (palavra empregada em sentido figurado para fazer entender o que se tem intenção), Ele falava de coisas e de personagens bastante comuns da época, a fim de que a mensagem do reino fosse compreendida de maneira simples, clara e objetiva.

Na verdade a bíblia como um todo possui inúmeros escritos que expressam termos conotativos, e todos eles possuem em seus contextos, um fundo de verdade em sua real interpretação, quer falem de Israel, da igreja ou dos gentios, por hora pretendo descrever seis delas, com o intuito de reconhecer a importância destes termos no contexto prático da nossa vida cristã, visto nos ensinarem quem somos e quais as nossas responsabilidades diante de Deus e dos homens.
         
1º Vós sois o SAL da terra: Com uso deste elemento, bastante comum daquela época, Jesus torna a mensagem do reino fácil e prática, considerando o conhecimento deles, com respeito a função do SAL (preservar, temperar e dá sabor), Jesus estava afirmando quem os discípulos eram e quais as suas funções no mundo (sociedade). Mateus 5.13.

2º Vós sois a LUZ do mundo: Esse outro texto conotativo é auto-explicativo, todos sabem a função da LUZ (clarear, irradiar, iluminar), ninguém acende um candeeiro para apagá-lo, nem mesmo para deixá-lo em local impróprio, aquela mulher contada na parábola das dez moedas, logo que perdeu uma, acendeu o candeeiro para facilitar a procura, imaginemos quão difícil seria, procurar a moeda no ambiente escuro, entendemos que a LUZ serve para atender necessidades e que não pode haver desperdício de energia, a luz precisa iluminar e continuar iluminando, mas ela também precisa está em pontos estratégicos, quando Jesus falou a parábola das dez virgens, a intenção era de vigilância e preparação, como damas de honra convidadas para a cerimônia de casamento do noivo, elas tinham a responsabilidade de manterem as suas lamparinas acessas, bem como tinham necessidade de levaram o combustível adicional (azeite em suas vasilhas, a fim de que não faltasse LUZ). Mateus 5.14; 25.1-13.

3º SOLDADO: O apóstolo Paulo, no uso da inspiração da palavra, seguiu o mesmo método de aplicação de linguagem conotativa usada anteriormente por Jesus, ao escrever para Timóteo, um jovem obreiro, convidando-o a ingressar no campo espiritual, a fim de agradar aquele que o alistou para a guerra, como SOLDADO, ele foi convocado para sofrer as aflições do evangelho com o seu companheiro (Paulo), todos sabemos que nenhuma coroação, honra e recompensa, pode ser concedida a um soldado sem ele primeiro não viver as aflições, as dores, os sofrimentos e as dificuldades existentes em um campo de batalha, a fim de que possa ser considerado um bom SOLDADO de Cristo.
O bom SOLDADO mantém o foco no alvo, não se distrai facilmente, posto ter em mente alcançar os resultados que lhe foram propostos e confiados, ou seja, ele procura corresponder com a chamada ou o alistamento.
Para ampliar o nosso entendimento com respeito à figura conotativa e semântica de tal personagem, Paulo escreveu aos Efésios o conjunto de componentes ligados diretamente a pessoa do SOLDADO, todos sabemos que o soldado não costuma entrar em guerra, desprovido de armamento, haja vista a referência literal no antigo testamento, cada peça tem sua utilidade e precisão em um conflito ferrenho, seja na defensiva ou ofensiva, portanto se temos da parte de Deus a disponibilidade de tal suprimento bélico, façamos uso, o combate convém e as armas são poderosas em Deus. II Timóteo 2.3-5; Efésios 6.10-17; II Coríntios 10.3,4,                    

4º ATLETA: O apóstolo Paulo também usa a figura de tal personagem, para definir a responsabilidade e o compromisso do Cristão, bem como o seu próprio caráter.
Paulo conhecia as qualidades e as habilidades deste profissional, com base nisso, ele incentiva os cristãos de Coríntios a perseverarem em alcançar o alvo, que por sua vez, é ainda mais motivador e merecedor de todo o esforço do ATLETA, posto não ter valor estimável, nem tão pouco é perecível e findável (um prêmio de caráter espiritual, uma coroa incorruptível) Apocalipse 2.10; 3.11.
Mas para que o ATLETA consiga avançar em direção ao alvo, ele necessita abdicar ou se abster de tudo que atrapalhe e prejudique a sua carreira.
O ATLETA é conhecido pela dieta que regularmente faz, ele não costuma comer todo tipo de alimentação que está ao seu dispor, falo no sentido conotativo tomando por base uma referência literal, o jovem Daniel colocou em seu coração o firme propósito de não se contaminar com os manjares do rei, visto serem de origem profanas, preferiu uma alimentação diferente (legumes e água), existe um dito popular que diz: “Na terra de sapo, de coca com ele”, claro que no bom sentido, faz sentido, porém no mal sentido, ou seja, quando a fé e a vida com Deus é comprometida, por conseguinte a conduta e o caráter cristão também, o enunciado acima perde todo o sentido, observemos que no contexto do caso de Daniel e seus companheiros, nenhum deles se curvaram a estátua do rei, isso comprometeria literalmente, todo aprendizado, fé, devoção, oração, adoração e comunhão com o Deus deles. Daniel 1.8; II Timóteo 6.12
É evidente que o ATLETA é conhecido pela auto-disciplina, mesmo quando tentado a quebrar as regras, mantém a postura de um profissional que foi devidamente ensinado e orientado para fazer a coisa certa no curso do seu trajeto espiritual. Daniel 6.10
O ATLETA não corre na incerteza, ele sabe que tem um alvo e precisa ser persistente, não costuma desistir na prova. Jó 1.9,10, Daniel 12.13; Hebreus 12.1; II Timóteo 4.8; Apocalipse 2.10.
Em fim, a figura de um ATLETA é mais uma forma eficiente de ensinar os cristãos sobre suas responsabilidades no sentido espiritual.

5º O ATALAIA: Este personagem no uso de suas atribuições também tem uma lição a nos ensinar, apliquemos sua função conotativa em nossa vida cristã, apesar de ser mencionado no período do antigo pacto, seu exemplo é aplicável quando falamos de conduta pró-ativa com vistas aos perigos iminentes e contrários à vida cristã (o mundo, o pecado, a carne e o adversário), todos estes são nossos inimigos e nem sempre percebemos a forma como estes nos enfrentam, é exatamente nesse sentido que este personagem entra em ação, visto saber a estratégia que define o ponto de sua permanência, bem como a direção horizontal do seu olhar atencioso, além disso, pesa sobre os seus ombros a responsabilidade de avisar e alertar o povo acerca de perigos ou da aproximação de mensageiros.
Com na responsabilidade profética, Deus constituiu Ezequiel com a mesma atribuição e nomeação conotativa (um ATALAIA espiritual com uma mensagem de ordem espiritual), Deus queria que todos, sem exceção, ouvissem aquela mensagem, a fim de que houvesse preparação espiritual.
Nesse sentido, a igreja de Jesus está na mesma incumbência de propagar, proferir, publicar, pregar, falar, professar, avisar e alertar as pessoas com uma mensagem, também de ordem espiritual, posto que o Deus dos crentes quer perdoar, libertar, justificar, regenerar, santificar, salvar e arrebatar.
A conotação empregada a tal personagem, também diz respeito ao tocar a trombeta, a fim de despertar e levar o povo a uma breve preparação de cunho moral (o povo tinha necessidade de abandonar as práticas pecaminosas, tais como adultério, mentira, prostituição, violência, roubo e inveja) e espiritual (conduzir o povo a se voltarem para Deus, arrependidos, convertidos, humilhados e dispostos a adorá-lo como único Senhor digno de glória e louvor). Joel 2.1.
Em fim, quando pregamos o evangelho do reino, nossas responsabilidades se assemelham com o ATALAIA (olhar atencioso, vigilante, tocar a trombeta, falar, avisar e alertar o povo quanto a necessidade de preparação).

6º SERVO: Preferi deixar para este último ponto, um comentário histórico e bíblico um pouco extenso sobre a vida deste personagem, com o intuito de reconhecemos a humildade e ao mesmo tempo a grandeza, a honra e a recompensa do servir, bem como o seu caráter, seu compromisso, suas atribuições e suas responsabilidades diante do seu Senhor.
Falando da história, desde a antiguidade este personagem tem demonstrado grande exemplo de abnegação e piedade no servir, não é por acaso que os mais influentes e destacados homens de Deus, receberam este título tão nobre, mas tão significativo.

No contexto histórico e no sentido literal, servo era um escravo geralmente comprado por um senhor, este por sua vez exercia autoridade total sobre ele; Depois de comprado, a vida do servo permanecia sob o domínio e os “cuidados” do seu senhor, ou seja, o servo praticamente passava a viver para o seu amo, mas infelizmente, o marco histórico evidencia terríveis períodos de crueldades e barbaridades a eles cometidas, se não bastasse o trabalho desumano que em si já era um agravante que ameaçava e comprometia a sobrevivência humana, eles sofriam os maus tratos dos seus senhores, na alimentação, vestes e calçados, eram violentamente torturados como forma de pressão emocional e física, forçados e constrangidos a fim de que houvesse maior produtividade com horas e horas de trabalhos ininterruptos, conseqüentemente maior lucratividade para os seus senhores, quando apresentavam deficiência física que acarretava na mão de obra, eram presos como bandidos, sendo trabalhadores, no pior de todas as dificuldades, eram mortos por incapacidade e inutilidade para os seus senhores, quer dizer, para o trabalho destes, era um lamentável cenário que logo seria denominado escravidão.

Sob o ponto de vista da sociedade atual, todos estes fatores causados pelo próprio homem, contribuíram negativamente para a desvalorização do servo ou escravo, posto que acima de tudo era o próprio homem racional sendo considerado e maltratado como um animal irracional, contudo, a história registra uma mudança significativa, com o desenvolvimento político, tecnológico, industrial e social, houve liberdade, igualdade e melhor condição de trabalho,

A vida do servo ou escravo foi historicamente marcada pelo serviço, embora bastante desumano, contudo, quando analisamos a sua vida, o seu caráter e o seu servir sob a ótica Divina, temos muito que aprender com este humilde personagem, vejamos algumas referências bíblicas: 

O servo é conhecido pela sua fidelidade, ainda que esteja na ausência do seu amo; José foi fiel quando tentado a possuir sexualmente e temporariamente o que não era seu (a mulher), Ser fiel a Deus, também significa ser fiel ao próximo, o que o servo demonstra ser na presença, deve demonstrar na ausência, sabemos que toda ausência costuma ser atrevida, e isso não só para o pecado da língua, mais também do pensar e do agir, contudo, para o servo fiel mais vale a integridade diante do seu Senhor. Gênesis 39.9; Lucas 16.10-12.

O servo é conhecido pela confiança e a honra recebida, José foi posto mordomo de tudo na casa e no campo do seu amo, na prisão, o carcereiro o nomeou chefe dos presos e no Egito, foi constituído governador. Gênesis 39.4,6,22,23.

O servo é conhecido pela prudência, posto saber até aonde vai o seu limite, José era mordomo de tudo, menos da mulher do seu amo, era também administrador, mas sabia que não era o proprietário. Gênesis 39.9; 41.40, Lucas 19.13,15.

O servo é conhecido pela produtividade e lucratividade dentro de suas possibilidades e responsabilidades, Gênesis 39.2, Lucas 19.15,16, Mateus 25.15,16.

O servo é conhecido por ter um caráter moral conservador, mesmo tentado constantemente a ter relação sexual com a mulher, conservou sua fidelidade (a Deus, ao seu amo e inclusive a mulher). Gênesis 39.10.

O servo é conhecido pelo seu compromisso e mordomia, José mesmo sendo assediado, permaneceu cuidando dos negócios do seu amo. Gênesis 39.11/Mateus 25.16.

O servo é conhecido pela disposição para servir, mesmo no cárcere, estava disposto a ajudar os companheiros (o copeiro e o padeiro) dando-lhes as interpretações dos sonhos. Gênesis 40.6,7.

 O servo é conhecido pela humildade e generosidade, Neemias 1.6; I Reis 8.28,30; Josué 5.14; Gênesis 42.19

O servo é conhecido pela obediência ativa a cada ordem recebida do seu amo, Mateus 8.9; 22.9,10; Lucas 7.8; Efésios 6.5,9.

O servo é conhecido pela perseverança e vigilância enquanto espera o regresso do seu amo, porém não sabendo em que momento este chegará. Lucas 12.37,38.

O servo é conhecido por ter sido escolhido como propriedade exclusiva do seu Senhor. Isaías 41.8

 O servo é conhecido por ser identificado com o nome do seu Senhor. Daniel 6.20.

O servo é conhecido pelo laço amigável e privilegiado que recebeu do seu Senhor. João 15.15.

O servo é conhecido pela mansidão. II Timóteo 2.24.

O servo é conhecido pela alegria e gratidão em servir, com com respeito a generosidade do seu senhor para com ele. Salmos 100.

O contexto bíblico de tudo que nos ensina tal personagem, é muito amplo, simplesmente não temos condições de descrevê-lo em sua exaustão, contudo, é possível percebermos, entendermos e reconhecermos as diferenças marcantes entre o servo no contexto histórico e cultural, sob o regime das autoridades humanas, totalmente opostas ao regime do governo de Deus, basta lembrar a exemplo, a escravidão e opressão do povo hebreu no Egito sob o domínio de Faraó, porém logo depois libertados por Deus através de Moisés.

Conclusão
Dentre os termos de emprego conotativo mencionados acima, de modo geral todos eles expressam o caráter e as responsabilidades cristãs, mas enfatizo aqui, o SERVO, por entender um pouco a sua abrangência e seu significado no contexto bíblico com um todo.  

Apesar do termo “SERVO ou ESCRAVO” soar negativo no contexto social do século XXI, a realidade é que a palavra de Deus nos ensina lições o suficiente para melhorar nossa vida com Ele e com o próximo, com a reflexão, a meditação, a valorização e a importância deste personagem sob a ótica, a autoridade e o cuidado de Deus.
Existem na bíblia, pelo menos dois grandes exemplos de Jesus ensinando a grandeza do serviço de um servo, existe ainda um terceiro exemplo, porém este foge à nossa compreensão de raciocínio, não temos capacidade intelectual para avaliamos o mistério existente na grandeza do servir e da humildade de Jesus, só é possível vivermos este mistério, se atentarmos para as palavras inspiradas do apóstolo Paulo: De sorte que haja em vós, o mesmo sentimento que também houve em Cristo, o serviço do servo necessita está autenticado pelo sentimento de seu Senhor (Cristo) e não pelo seu próprio sentimento, considero este terceiro exemplo bastante profundo, posto nele está presente o mistério da encarnação, Filipenses 2.5-11.

A bíblia diz que mesmo Jesus sendo Senhor, não veio para ser servido, mas para servir, o presente contexto falava sobre autoridade, grandeza, destaque, fama e posição, conforme o pedido de uma mãe para com seus dois filhos (discípulos); Quando Jesus percebeu a indagação e indignação dos outros, logo introduziu uma palavra afirmando-lhes que o método de ascendência e prioridade no reino de Deus não era igual ao método dos gentios. O lema do reino é: Quem quer ser maior, seja servo. Mateus 20.28.

O segundo exemplo está no quarto evangelho, Desta vez, a prática falou muito forte aos discípulos, o ensinamento do mestre visava fazê-los aprender suas responsabilidades na condição de servos chamados para servir, bem como uma surpreendente lição de humildade, visto que o ato não era esperado pelo Senhor, mas apenas pelo servo, Jesus demonstrou para eles, o que eles deveriam demonstrar para o próximo, o modelo do caráter e do servir, era exatamente o mesmo que o mestre ensinou. João 13.1-17.

Finalizo com este último parágrafo conclusivo, citando uma frase que diz: QUEM NÃO VIVE PARA SERVIR, NÃO SERVE PARA VIVER! Servir a Deus e ao próximo, apesar de todas as adversidades aqui existentes, se constitui um dos maiores privilégios de Deus para o homem, Jesus é o nosso maior referencial, sendo Senhor se fez servo e por falar de servo, seu notável exemplo serve-nos de inspiração e motivação para servir, cientes de que quanto cessar o nosso serviço em terra, nosso Senhor nunca nos desprezará, nos levará e recompensará desde a Sua morada e assim estaremos para sempre com o nosso Senhor, o futuro de um servo de Deus será um futuro de glória e eternidade que nada pode ser comparar.

A paz do Senhor.    

18 Características do evangelho

1º Convidativo Mateus 11.28; Apocalipse 3.20 2º Decisivo Mateus 7.13 3º Dinâmico Mateus 28.18; Romanos 1.16; Atos 1.8, 8.8; I Coríntios 1.18...