O perfil dos "lobos" eclesiásticos na época de Jesus e dos apóstolos


Texto bíblico: Atos 20.28-31

Ao expor o assunto em apreço, ressalto e reforço desde já, que não é nossa intenção "provocar", "perseguir"ou até mesmo "atacar" quaisquer que sejam obreiros ou líderes do segmento religioso atual.

Uma vez que os objetivos são, desenvolver o assunto dentro do arcabouço bíblico, a fim de compreendermos mais a fundo, não o que penso ou o que tenho a falar, mas o que a bíblia nos fala e nos ensina sobre isso, e assim sendo, veremos a maneira como tais personagens se caracterizavam e se conduziam junto ao rebanho, porém em torno de seus próprios interesses, conforme as referências textuais nas quais serão identificados.

Dito isto, acho importante fazer junto ao leitor, uma breve, consciente e mútua reflexão mental, acerca da aplicação e abrangência secular deste assunto, uma vez que continua a existir e se contextualiza além do segmento religioso, contudo, evitei a inclusão de comentários da atualidade, visto já ter esclarecido a intenção e objetivos desse post.   

Vamos a bíblia, a presença de tais personagens já era real nos tempos de Jesus, mas se intensificou ainda mais após a sua ascensão(partida ao céu), período do surgimento e do contexto consideravelmente crescente da igreja cristã, formada por judeus e gentios; O cristianismo estava então, ganhando forte aceitação de povos com cultura judaica e filosófica bastantes afloradas na época.

É nesse contexto ideológico, cultural e pluralizado(de crenças, de ensinos, de costumes, de tradições, de práticas e de estilos de vida), e contraditório as doutrinas essenciais do cristianismo, que as cartas apostólicas são escritas e enviadas as igrejas, também com um  perfil apologético, ou seja, em defesa da fé cristã(zelo, cuidado, compromisso pastoral com o rebanho, explicação e aplicação doutrinária para aprofundamento, alerta, resistência e perseverança cristã, bem como refutação e rejeição dos ensinos e práticas ora disseminados por tais lobos eclesiásticos, assim os apóstolos os combatiam e inibiam, por entenderem o perigo e ameaça que tais personagens representavam para a igreja cristã de então.

É importante que se diga, os apóstolos não objetivavam "os combates em si", tais reações eram consequências secundárias, ocorridas e necessariamente coibidas dentro de um contexto de fatos prioritários em relação a igreja(bem maior), visto que após fundá-las, eles primavam pela manutenção, crescimento e amadurecimento desta, com instruções exortativas, edificantes e consoladoras, com vista vindoura na bendita esperança da vinda de Jesus e de uma vida gloriosa com Ele na eternidade. I Cor.4.14; II Cor.11.2; Gl.4.19; Cl.1.28,29   

Vejamos a seguir:

1- Seus sérios títulos(sinônimos)

Comumente conhecidos, usuais e alguns até bíblicos, denominados a tais personagens(lobos devoradores, falsos apóstolos, falsos profetas, falsificadores da palavra, promotores de heresias, heréticos, agentes de satanás, operários de satanás, emissários de satanás, obreiros fraudulentos, mercadores da fé, gigolôs da fé, doutores do engano, falsos doutores, falsos mestres etc...).

2- Seus disfarces

Aparência de ovelha(por fora), mas verdadeiros lobos(por dentro). Mt. 7.15-23; Jo.10.11,12; Transfiguram-se apóstolos de Cristo, porém com aparência camuflada. II Cor.11.13 

Observe que pela aparência diz o dito popular, "as aparências enganam", mas Jesus estabeleceu um critério de identificação mais profundo, que avaliava além das aparências; baseado em um breve discurso despertativo e analógico a natureza, Jesus disse: Pelos frutos os conhecereis(ações, influências e interesses), acrescentou ainda, visto que toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus.

Outra característica contrastante no livro de João, é a analogia de aplicação prática e imediata, sobre dois personagens comuns da época(o pastor e o mercenário), segundo o texto, o pastor se auto-sacrifica pelo rebanho, a tal ponto de arriscar a própria vida para salvaguardar as vidas das ovelhas, enquanto que os mercenários não oferecem a mínima ação sacrificial, uma vez que estão motivados pelos seus próprios interesses pessoais e nunca pelas necessidades do rebanho. Jo.10.1-14; II Cor.2.17; II Pe.2.1-3 

3- Suas estratégias

Sutileza, astúcia, oportunismo, oratória e persuasão, aplicadas nos seus discursos para com o rebanho(uso de palavras bem elaboradas, polidas, atrativas, impressionantes e convencedoras). Rm.16.18; I Cor.2.1,4,5,13; Ef.4.14; Col.2.4

4- Seus artifícios

O legalismo judaico e as filosofias do saber humano, notoriamente cultivados, discursados, debatidos e aclamados no mundo de então(judaico/grego-romano). Col.2.8,16,17,18; cito ainda como referência integral a carta aos Gálatas(conhecida como a "Carta da Liberdade"), em razão das influências e das tendências do legalismo praticado pelos judaizantes no seio da igreja, apesar de cristã, mas formada de povos extremistas em suas tradições(judeus e gentios).   

4.1- No aspecto do legalismo judaico

Podemos enfatizar em breve linhas, os escribas(doutores da lei) e fariseus(adeptos), visto que ensinavam e praticavam um mero e incoerente formalismo religioso, vazio e sem essência, até tinha aparência, mas não produziam frutos bons, Jesus os reprovou seriamente ao chama-los de "sepulcros caiados"(davam ofertas/esmola, praticavam jejuns, orações e discursavam bem a lei), mas tudo não passava de religiosidade fria e morta(hipocrisia, falsidade), nestes não havia verdadeiro conteúdo espiritual altruísta e autêntico, posto que suas próprias ações por si mesmo os reprovavam (amavam serem vistos pelos homens, galgavam os primeiros lugares nas sinagogas e gostavam quando chamavam-no de rabinos) Mt.6.2,5,16. 

Apesar disso, seus ensinos legalistas em si(lei moral), eram dignos de aceitação pública, tanto que o próprio Jesus recomendou atenção e obediência a tais ensinos por eles ministrados, porém com uma ressalva: Ouvir e praticar o que eles ensinavam acerca da lei, mas não proceder como eles procediam! Mt.23.2-7

Indo adiante, precisamente na era da igreja primitiva, os falsos mestres ensinavam a suficiência da lei cerimonial, a guarda do sábado, o comer alimentos puros e a circuncisão, razões pelas quais Timóteo e Tito foram orientados por Paulo em relação aos tais, bem como a correta postura de ambos frente a disseminação de tais ensinos. Tt.1.10,11;3.9-11

4.2- No aspecto filosófico

Apesar dos gregos cultivarem a crença politeísta na religião( adoração idolatra e pagã aos deuses mitológicos e até mesmo aos imperadores), crença esta, bastante tradicional no mundo antigo como um todo e também enfrentada nas cartas apostólicas; Mas voltando a filosofia, os gregos por assim dizer, "respiravam" sabedoria, haja vista os inúmeros discursos e debates que ocorriam no areópago(tribunal) em Atenas; Eles por vezes, eram estimulados pelas buscas e descobrimentos de novos saberes meramente egocêntricos e altivos, uma vez que não discursavam sobre a pessoa de Jesus, tais saberes apenas giravam em torno de suas próprias razões humana(intelecto, inteligência, racionalidade). At.17.16-22; I Cor.1.22,2.6

O pastor/servo dos gentios(Paulo), foi por vezes provocado e rebaixado por estes falsos mestres do "discurso impressionante", por pregar a simplicidade do evangelho da cruz, mas já diz um dito popular: Gaiola bonita não dá comer a canário!

 Afirmavam eles, para a própria igreja da qual Paulo era o fundador(Coríntios), que por carta até que a mensagem deste era forte, mas pessoalmente o apóstolo era fraco, tanto nas mensagens que ensinava quanto no apostolado que desenvolvia, uma vez que por amor ao evangelho, padecia e sofria das mais diversas maneiras e nas mais diferentes circunstâncias. II Cor.10.10; 11.19-30; 12.10.  

Tomemos por exemplo a cruz como método de tortura, sofrimento e execução penosa, confinada aos mais miseráveis pecadores; E vejamos a reação dos gregos no uso de suas filosofias, interpretarem loucamente a crucificação de Jesus(com vergonha, desprezo, humilhação e fraqueza), não por acaso, o apóstolo Paulo refuta e contrasta categoricamente, a futilidade dessa filosofia(sabedoria humana) em detrimento a sabedoria de Divina, afirmando e se auto-declarando não se envergonhar do evangelho e da cruz de Jesus(fonte do poder de Deus para a salvação dos Judeus e também dos gregos) Rm.1.16; I Cor. 1.18,23,24;2.4,5

Por falar de sofrimento e humilhação, os "sábios filósofos" também repugnavam tal realidade humana, mas Deus em sua elevada sabedoria, ilógica e incompreensível à mente humana, decidiu começar a salvar justamente os mais pobres, vis e desprezíveis pecadores da época, lembremos a exemplo do contexto da lei judaica, a tamanha revolução gerada na corte religiosa, após Jesus priorizar e oportunizar o reino de Deus à tais "grupos" sociais, e ainda sentar para comer à mesa com eles. Embora todos estivessem incluso no plano da salvação, foi primeiramente por estes, que o evangelho(sabedoria de Deus) se manifestou. Mt.9.10-13; I Cor.1.27-29

A ressurreição de Jesus também era desacreditada, tanto pelo ensino dos saduceus que a negavam, quanto pelas influências filosóficas(o gnosticismo/dualismo), tal doutrina ensinava que o físico era má, logo a ideia de um corpo ressurreto era repulsivo e inaceitável. I Cor.15.12-19

Porém, não acreditar na ressurreição comprometia toda uma sequência de ensinos práticos da vida cristã, haja vista o apóstolo Paulo descrevê-los, vejamos:

Não havendo ressurreição(1-Cristo não ressuscitou, 2- É inútil a pregação do evangelho, 3- É inútil a fé, 4- Somos falsas testemunhas, 5- Permanecemos condenados em nossos pecados, 6- Os que morreram em Cristo estão perdidos).                   

Como visto, ambos aspectos (legalista e filosófico), acima pontuados como artifícios de tais personagens, contrariavam, confrontavam, rejeitavam e negavam as premissas doutrinárias do cristianismo, tais como exemplo: A divindade de Jesus, sua encarnação, humanidade, santidade e ressurreição.

5- Seus objetivos e consequências

Enganar, cauterizar, impressionar, iludir, seduzir as mentes com discursos capciosos, levar os membros a depositar confiança e aceitação nas doutrinas distorcidas e por eles discursadas, com isso atrair e preparar grupo(adeptos) após si ou para si, atacar, caluniar, inferiorizar e lançar a reputação da liderança ao descredito, desviar e conduzir o povo a um estado de desobediência, contenda, rebeldia, rebelião, divisão, perversão e adultério intelectual, moral e espiritual, bem como ao completo afastamento e abandono da fé cristã(apostasia). Ap. 2.14,15; A fim de se obter resultados pessoais egoístas, ambiciosos e avarentos. Mc 11.17.

Por mencionar o termo apostasia(abandono e rejeição da fé, de modo consciente, frio e pré-meditado e ao mesmo tempo, aceitação e apreço por outros ensinos controversos), a epístola de Judas nessa temática serviu e serve como um breve "manual apologético", uma vez que conclamava um chamado imperativo e exortativo para prudentemente batalhar, defender e salvaguardar as verdades salutares do evangelho.        


Conforme enfatizei nos parágrafos iniciais, as intenções e os objetivos desse post, finalizo a seguir com algumas considerações.

Como visto ao longo dos tópicos comentados e referenciados, esse assunto era de fato bastante notório no contexto do N.T e até mesmo no A.T, a exemplo os inúmeros falsos profetas. 

Relembro ao leitor, apesar de não comentar a aplicação e abrangência desse assunto em nossos dias atuais, não o isento de tal contexto, uma vez que tanto no segmento religioso como em quaisquer outros segmentos, sempre existiram homens falhos e pecadores assim como nós; Não se procura rastos de anjos aonde os humanos pisam, porém não seria coerente se apropriar da tal fragilidade humana, para "fundamentar" a prática de um viver pecaminoso e passivo, como se não existisse a mínima possibilidade de mudança; Lembrando que fomos dotados de razão e capacidade de escolha(livre arbítrio), mas faço aqui uma consideração importante e que não mencionei mais a fundo ao longo deste post, diz respeito as influências hostis de batalhas espirituais, travadas simultaneamente e intrinsecamente no campo da nossa existência física, isso significa dizer, que além da frágil natureza adâmica influenciar diretamente a razão(sabedoria) e a livre escolha humana, tais influências também tem interferências, perceptíveis ou imperceptíveis, reveladas ou ocultas; Haja vista o apóstolo Tiago atribuir a sabedoria (facciosa, invejosa, mentirosa e egocêntrica) a uma natureza terrena, animal e diabólica! O apóstolo Paulo exortou o jovem obreiro Timóteo quanto a apostasia de alguns motivada por espíritos enganadores e doutrinas de demônios, também alertou a igreja de Éfeso quanto a presença de uma batalha espiritual ocorrendo no mundo material, a partir da qual, ele faz uma analogia militar, enfatizando a urgente necessidade de preparação(uso de munição espiritual defensiva e ofensiva), vigilância, luta, perseverança e firmeza. Tg.3.14,15; Tm.4.1,2; Ef.6.10.18

Contudo, há uma promessa de Jesus(arquiteto, fundador e proprietário), para a sua igreja amada(noiva), "as portas do inferno não prevalecerão". Mt.16.18; Hb. 10.23     

A exemplo, o próprio testemunho do apóstolo Paulo outrora "Saulo de Tarso", um judaizante radicalmente zeloso, conhecedor do legalismo judaico e da filosofia grega, de perfil ferrenho, perseguidor da igreja cristã, implacável oponente da obra e do fundador desta, literalmente um "lobo" faminto e devorador que "respirava" ameaças contra o rebanho, embora em contextos diferentes dos lobos eclesiásticos acima citados, bem como seus objetivos também já identificados.

Contudo, o fato marcante e "divisor de águas", foi o súbito encontro que o Senhor Jesus(dono da igreja), teve com o até então Saulo no caminho já perto de Damasco(ocasião de sua conversão à fé cristã), conversão esta bastante suspeita e duvidosa pelos judeus, decorrente de seu temido perfil; Inicialmente, seu ofício apostólico também foi alvo de censura e insegurança, mas depois aceito e reconhecido pelos seus pares e pela igreja, visto que teve uma experiência real e pessoal com Jesus(requisito ao apostolado), este por sua vez, literalmente mudou a sua vida, de Saulo para irmão Paulo, de arrogante para humilde, de perseguidor para perseguido e de "lobo" para pastor/ovelha.
Mt.19.26; Hb.13.8; Rm.10.9,10; Pv.28.13

A paz do Senhor.      

 

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